Publicado 07 de Janeiro de 2012.
A água é um dos recursos naturais essencial à vida na terra. Ela, em grande quantidade, pode causar destruição e inundação, e, em escassez ou poluída, provoca limitações no abastecimento e na produção de alimentos, sendo, assim, necessária a implementação de ações racionais que visem à minimização destes impactos. Com a globalização, esta discussão ganhou força à medida que o processo de desenvolvimento econômico não sustentado requer, cada vez mais, água em quantidade e qualidade, enquanto tende a provocar maiores desigualdades sociais e bem como o aumento da degradação ambiental, principalmente nas regiões mais pobres. Nessas condições, a avaliação do problema da água não pode mais se restringir a um simples balanço entre a oferta e demanda ou a uma simples estimação da poluição, mas deve considerar as inter-relações e atender os usos e as peculiaridades geo-ambientais e as mudanças nos padrões socioculturais, visando alcançar e garantir um certo nível de qualidade de vida de uma região.
Segundo Relatório Técnico divulgado pela Organização das Nações Unidas no ano de 2015, afirma que 40% das reservas de água do mundo irão encolher até 2030 e coloca o Brasil como o país que mais sofre com estresse ambiental, além disso, 748 milhões de pessoas não tem acesso a água potável e 20% dos aquíferos (poços) são explorados excessivamente e abastecem metade da população mundial e 43% são destinadas para irrigação. É notório que o efeito da escassez é inevitável e vem aumentando principalmente na região semiárida. Refletindo sobre esse cenário, peguemos um país, como Israel, que é equivalente ao tamanho do Estado da Paraíba, com uma população de 7,9 milhões de pessoas, com terras ruins para a agricultura, com recursos naturais limitados, com apenas 68 anos de existência, que chove apenas 200 milímetros por ano e vive em guerras, tornou-se um dos maiores centros tecnológicos e de inovação do mundo, quando o tema é água e produção de alimentos. Sem contar que a água que bebemos é a mesma desde a origem do mundo. ONDE ESTAMOS ERRANDO?
Segundo dados do IBGE (2000), o percentual de pessoas que passaram a viver em áreas urbanas passou de 36,16%, no ano de 1950, para 81,25% no ano de 2000, ao passo que na Paraíba, este percentual passou de 26,66% para 71,06%, para os mesmos anos. É sabido que crescimento populacional ocasiona problemas em diferentes setores que necessitam de água. Podemos destacar um problema claro de desperdício na região do sertão paraibano, especificamente no perímetro irrigado de São Gonçalo, onde 84% das práticas de irrigação são por inundação, pelas quais se têm 60% de perda de água, como também salinizam o solo, podendo torná-lo estéreo. Só para termos ideia, em época farta de água, o consumo hídrico em um ano chegava em aproximadamente 110 milhões de m³. Aí você pode estar aí se perguntando: como o açude São Gonçalo atendia essa demanda, se sua capacidade é de somente 44,6 milhões de m³? Toda a água complementar vinha do açude de Engenheiro Ávidos (Boqueirão), mas o pior disto tudo é saber que 66 milhões de m³ todo ano eram perdidos por práticas ineficientes, podendo essa perda ser correspondente em aproximadamente uma vez e meia o tamanho da capacidade do açude São Gonçalo.
Além de atender as demandas por irrigação, o açude São Gonçalo atende o abastecimento humano das cidades de Sousa, Nazarezinho, Marizópolis e do próprio distrito de São Gonçalo, correspondendo a uma população de aproximadamente 82.662 de habitantes, segundo o levantamento do IBGE (2015), considerando uma cota per capita de 110 litros por dia, o consumo de uma pessoa por ano é de 40,15 m³ e para toda a população da grande Sousa-PB chegam 3,32 milhões de m³ num ano. Nesta realidade, seria necessária uma entrada de água no açude São Gonçalo (considerando as perdas por evapotranspiração e infiltração de 30%, o assoreamento em torno de 10%, mantendo os padrões atuais de racionamento e volume morte de 2,982 milhões de m³) um volume de 8,83 milhões de m³, que corresponde a 19,80% da capacidade máxima do reservatório, ou lâmina de aproximadamente de 13 metros, para atender o abastecimento humano até o inicio do ano de 2017. O que se percebe é que o setor da irrigação é o maior consumidor de água, ficando notório que a gestão integrada, utilizando alternativas de reuso de água e o aproveitamento das águas da chuva, minimiza a escassez hídrica de uma região.
Outro problema existente, com relação aos desperdícios, que podemos citar é a perda de água nas redes de abastecimento hídrico das cidades. Segundo o Instituto Trata Brasil, no ano de 2014, à Paraíba chega a desperdiçar mais de 40% da água faturada, sem contar com a falta de conscientização de grande parte da população e os desvios de finalidades. Essas perdas são geralmente decorrentes de vazamentos, ligações clandestinas, erros de medição, e outras irregularidades. No Japão esse índice não chega a 5%, possuindo um eficiente sistema de detecção de vazamentos.
Afinal, quem são os culpados pela CRISE HÍDRICA vivenciada? Segundo o instituto de pesquisa Expertise, no ano de 2015, divulgou uma pesquisa onde afirma que a 87% da população atribuem a responsabilidade maior ao governo, seguido das companhias de abastecimento de água. Afirmaram ainda que o mau uso da água e a falta de chuva eram considerados os fatores principais para a crise, mas agora reconhecem atualmente que foi devido a falta de planejamento na gestão pública e de conscientização da população. Lembro-me que em sala de aula, no ano de 2012, numa turma de administração da UFCG, quando discutíamos modelos matemáticos utilizados para o planejamento estratégico, eu afirmei que, caso se mantivessem os padrões de consumo e não se promovessem nenhum planejamento dos açudes da bacia do Alto Piranhas, estavamos caminhando para um colapso total, situação vivenciada nos últimos anos.
Pelo que venho lendo e analisando pelos dados meteorológicos, o ano de 2017 será bom para agricultura e teremos um bom inverno com chuvas acima da média histórica, devido à presença Lã Ninha. Só nos resta agora, neste momento pedir ajuda a Deus que concretize as previsões favoráveis e não nos permita que entremos em um colapso total, que representaria, neste último caso, um estado de guerra pela água. Por não existir mais tempo para elaborar um planejamento adequado, a única solução é transposição do Rio São Francisco, donde se dará uma segurança hídrica para a nossa região de pelo menos 80 anos, caso essa água seja utilizada de forma eficiente. Acredito ainda que, para a Paraíba receber as águas do Rio São Francisco, será necessário um plano de recuperação dos reservatórios e revitalização dos rios, para que no futuro não ocorram problemas com inundações. Além disso, seria necessário que o poder público, por meio de lei, incentivasse que a população construíssem sistemas de captação da água de chuva em seus domicílios, isso encomizariam água e diminuiriam as pressões dos mananciais locais.
O grupo de pesquisa Gestão Ambiental no Semiárido vem dando sua contribuição para minimizar os efeitos da escassez e orientando o sertanejo a conviver com a seca. Em 2016 irá lançar o Programa Águas do Sertão (PAS), que está fundamentado com as ações previstas no Plano Nacional de Recursos Hídricos do Brasil (PNRHB) e com as diretrizes propostas pela Organização das Nações Unidas (ONU), propõe estimular na região sertaneja, especificamente na cidade de Sousa-PB, a implementação de práticas sustentáveis e eficientes no uso da água, que estimulam uma gestão racional e ações de conscientização que visam minimizar a problemática da água. O programa PAS está organizado em três projetos que reúnem as seguintes práticas programáticas: O uso consciente e racional da água; O manejo sustentável da água de chuva e; A arborização urbana.
Contudo, a crise hídrica só será superada, se for elaborado um pacote de políticas públicas, de ações e tecnologias que utilizam a água de forma eficiente e que ocorra uma mudança cultural nos padrões de consumo da população. Com isso, teremos segurança hídrica, garantiremos água para as futuras gerações e contribuiremos para otimizar a governança da água.